Como nos recordamos, a revista norte-americana “Time” elegeu o Papa Francisco como Personalidade do Ano em 2013 “por arrancar o papado do palácio e o levar para as ruas” e por “dosear o julgamento e a misericórdia”.
Por Orlando Castro
Esperamos que este ano aquele conceituada revista oiça quem sabe da matéria, no caso o “Jornal de Angola”, e não tenha dúvidas em colocar no primeiro lugar do pódio, em 2014, o mais merecedor dessa designação: José Eduardo dos Santos.
O ano passado a Tome disse que, “no espaço de nove meses, desde que assumiu funções, o Papa Francisco ocupou exactamente o centro das conversas fulcrais dos nossos tempos: sobre a riqueza e a pobreza, a equidade e a justiça, a transparência, a modernidade, a globalização, o papel das mulheres, a natureza do casamento, as tentações do poder”,.
Todos desejam que este ano se lembre de uma personalidade como Eduardo dos Santos que, há décadas, tem sido o timoneiro de todas as qualidades e intervenções que foram atribuídas ao Papa. Aliás, até no âmbito religioso, importa realçar que o Presidente de Angola é mesmo considerado “o escolhido de Deus”.
Após o anúncio da escolha da prestigiada (não tanto como o “Jornal de Angola”, obviamente) revista norte-americana, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que esta decisão “não surpreende, tendo em conta a ressonância e a grande atenção que a eleição do Papa Francisco e o início do novo pontificado despertaram”.
Segundo a “Time”, “o líder da Igreja Católica tornara-se na nova voz da consciência, com a atenção centrada na compaixão”, apresentando Francisco como “o Papa do Povo”.
Na sua declaração, Federico Lombardi considerou “um sinal positivo que um dos reconhecimentos mais prestigiosos no âmbito da imprensa internacional seja atribuído a quem anuncia no mundo valores espirituais, religiosos e morais e fala eficazmente a favor da paz e de uma maior justiça.”
Por seu lado, o Papa – frisou – não procura fama nem sucesso, faz simplesmente o seu trabalho de anúncio do Evangelho do amor de Deus para todos. Se isto atrai mulheres e homens e lhes dá esperança, o Papa sente-se feliz. Se esta escolha “da Figura do Ano” significa que muitos compreenderam – pelo menos implicitamente – esta mensagem, com certeza que isto o fará sentir-se feliz, concluiu o porta-voz da Santa Sé.
Francamente. Distinguir o representante de Deus e esquecer o “escolhido de Deus” foi um manifesto atentado contra uma personalidade, Eduardo dos Santos, que só em África deixa a quilómetros de distância dirigentes como N’Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny, Hassan II ou Nelson Mandela.
Não fosse a “visão estratégica” do Presidente José Eduardo dos Santos e, reconheça-se, a democracia, a reconciliação, a igualdade, a liberdade, a equidade social já há muito tinham colapsado.
O mundo tem ainda de perceber, de uma vez por todas, que também na economia, tal como em todas as outras vertentes da vida, e da morte, dos angolanos, Deus tem em Eduardo dos Santos o seu escolhido. Poucos são os que se podem gabar de chefiar um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto dos seus países.
Além disso, ao contrário do Papa Francisco, José Eduardo dos Santos não chegou ontem à liderança de um país que é um paradigma celestial. Ele, o nosso “escolhido de Deus”, tinha 37 anos quando, a 21 de Setembro de 1979, quando foi investido no cargo, sucedendo a António Agostinho Neto, que tinha morrido poucos dias antes em Moscovo na sequência de uma intervenção divulgada como cirúrgica… no sentido clínico.
Capitaneados pelo mais sério concorrente ao título de Personalidade Mundial 2014, alguns angolanos continuarão a ser cada vez mais ricos e outros, pouco relevantes para o caso, continuarão a ser cada vez mais pobres. Embora seja assim há quase 40 anos, certo é que, como tudo na vida, não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.
Como dizia Teta Lando, eventualmente num poema – quem sabe? – da autoria de Eduardo dos Santos, “se tu és branco isso não interessa a ninguém, se tu és mulato isso não interessa a ninguém, se tu és negro isso não interessa a ninguém. O que interessa é a tua vontade de fazer uma Angola melhor. Uma Angola verdadeiramente livre, uma Angola independente.”
Até agora o líder do MPLA (partido que governa Angola desde 1975), presidente da República não eleito nominalmente e chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, mostra que não brinca em serviço e que não descansará enquanto não for escolhido como personalidade mundial e, é claro, não conquistar um mais do que merecido Prémio Nobel.
Em abono do apoio que aqui manifestamos a José Eduardo dos Santos, lembramos que, de quando em vez, o Presidente revela um humor inaudito, visível quando exorta os seus súbditos a, nem mais nem menos, “não pactuar com a corrupção e com a apropriação de meios do erário público ou do partido”.
“Hoje é voz corrente equiparar a pessoa investida em funções políticas a um homem sem palavra, desonesto e sem escrúpulos. É necessidade absoluta assumir atitudes positivas que desfaçam essa imagem pálida e inconveniente de forma a dar credibilidade, valorizar e repor a nobreza da função dos dirigentes políticos”, diz Eduardo dos Santos com a mesma veemência com que, por exemplo, condena a cultura da morte ou do assassinato.
Eduardo dos Santos pede também com alguma regularidade o “fim da intriga, dos boatos e da manipulação de factos na comunicação social para prejudicar os outros”.
“Devemos aperfeiçoar o modo de encarar a política, um modo pró-activo e rigoroso de mostrar o nosso empenho e dedicação que sirva para mobilizar milhões para a nossa causa”, disse Kim Jong-un, perdão, Eduardo dos Santos.
Ainda no âmbito da sua veia humorística, nem sempre compreendida pelos jornalistas, José Eduardo dos Santos também diz que o MPLA pugna desde 1975 “pela defesa das liberdades direitos e garantias dos cidadãos, e considera o direito à associação como fundamental”.
O auge desse humor, dir-se-ia que é quase um orgasmo, regista-se quando o Presidente evoca como a causa de todos os males a “pesada herança do colonialismo”.
Importa não esquecer as palavras do Vice-Presidente da República, Manuel Domingos Vicente, quando destaca o papel de liderança de José Eduardo dos Santos no processo histórico para que “Angola vencesse o abismo e se tornasse hoje uma referência na região, em África e no mundo”.